A serpente

de

Nelson Rodrigues

A Serpente, 1998

Indicações ao Prêmio Shell 98
Melhor Direção: Antonio Guedes
Melhor Atriz: Claudia Ventura
Melhor Trilha Sonora: Antonio Guedes

Estreou em 1998 e, após 3 temporadas, totalizando 5 meses em cartaz no Rio, partiu para uma série de apresentações pelo Brasil, participando de festivais e de projetos de intercâmbio nacional.

A serpente cumpriu temporada no Museu da República, no Teatro Glauce Rocha (1998) e no Teatro da UniverCidade (1999).

Foi apresentada ainda na II Mostra de Teatro de Maceió (AL) em 1998, no Festival de Londrina (PR) e no Festival de João Pessoa (PB) em 1999, participou do Palco Giratório do Sesc-DN (em PE: Recife, Caruaru, Garanhuns, Petrolina e Arcoverde e no CE: Crato, Juazeiro do Norte e Fortaleza) e do Funarte na Cidade (Brasília/DF, Curitiba/PR, Caxias do Sul/RS) em 1999. Esteve, ainda, no Festival de Inverno de Ouro Preto (MG) em 1999, nos Sescs-Barra Mansa, Madureira e São João de Meriti (RJ) em 2001. Apresentou-se no Festival Pequeno Gesto – Espaço 3 do Teatro Villa-Lobos em 2001, no Festival de Inverno de Mariana (MG) e no Festival Universitário de Blumenau (SC) em 2002. Participou do projeto Caravana Funarte em 2005, passando por Nova Friburgo (RJ), Campinas (SP), Itaúna e Belo Horizonte (MG).

Ficha Técnica

autor NELSON RODRIGUES
direção ANTONIO GUEDES
dramaturgista FÁTIMA SAADI
cenário DORIS ROLLEMBERG
figurinos PRISCILLA DUARTE
iluminação BINHO SCHAEFER

 

Elenco
ALEXANDRE DANTAS
CLAUDIA VENTURA
MARCOS FRANÇA
PRISCILA AMORIM / SIMONE ANDRÉ
VILMA MELO / ANA ELISA AL’SAN

  • Alexandre Dantas, Claudia Ventura, Priscila Amorim e Marcos França. A serpente, de Nelson Rodrigues, 1998. Foto: Guga Melgar
  • Priscila Amorim e Marcos França. A serpente, de Nelson Rodrigues, 1998. Foto: Guga Melgar
  • Claudia Ventura e Alexandre Dantas. A serpente, de Nelson Rodrigues, 1998. Foto: Guga Melgar
  • Alexandre Dantas e Claudia Ventura. A serpente, de Nelson Rodrigues, 1998. Foto: Guga Melgar
  • Priscila Amorim e Marcos França. A serpente, de Nelson Rodrigues, 1998. Foto: Guga Melgar
  • Marcos França e Vilma Melo. A serpente, de Nelson Rodrigues, 1998. Foto: Guga Melgar
  • Marcos França e Priscila Amorim. A serpente, de Nelson Rodrigues, 1998. Foto: Guga Melgar
  • Alexandre Dantas e Priscila Amorim. A serpente, de Nelson Rodrigues, 1998. Foto: Guga Melgar

Crítica

  • Uma abordagem viva de Nelson
    Macksen Luiz
    Jornal do Brasil, 19/12/98

     

    Apesar de ser a última peça escrita por Nelson Rodrigues – quando a escreveu há 20 anos, por encomenda, já demonstrava uma certa inapetência para a dramaturgia –, A serpente mantém as mais profundas obsessões do autor. Lá estão a dubiedade das relações entre irmãs (Vestido de noiva), o determinismo nas decisões (A falecida), a manipulação em relação ao sexo (Os sete gatinhos) e a morte como revelação de sentimentos (Beijo no asfalto). O tratamento desses temas-obsessão é um tanto mais esquemático. Os diálogos curtos, secos, despojados, servem a uma narrativa igualmente curta, seca e despojada.

     

    Duas irmãs casaram no mesmo dia e vivem no mesmo apartamento, mas um dos casais não consumou o casamento. Ao descobrir essa situação, uma delas oferece o seu marido para que finalmente seja superado o impasse. O que acontece depois leva à tragédia, neste quase melodrama no qual Nelson Rodrigues condensa a ação num nervoso entrechoque de atitudes obsessivas e com uma tensão interna que insufla indiscutível carga dramática à trama. Mas A serpente não deixa de mostrar que é uma peça da fase menos realizada de Nelson Rodrigues. A extrema concisão do texto, que eventualmente se anula pelo derramamento do melodrama, torna evidentes as fragilidades dessa peça que apela bastante para as imagens do frasista e do autor de folhetim em detrimento da carga dramática e força expressiva do dramaturgo.

     

    O espetáculo de Antonio Guedes, que simplifica ao extremo a cena – uma única janela, impositiva, onipresente, operística, toma conta do palco como cenário de vários significados dramáticos. O diretor concentra o nervosismo do texto na ocupação permanente do palco, numa movimentação em que os gestos e as vozes entrecortadas apoiam e revelam a interioridade da ação. Os atores, em movimentos coreografados e ao som de um tango de Artur Piazolla (referênçia reiterativa e óbvia), circulam pelo palco numa dança agitada, na qual os diálogos ganham um tom rascante. Cria-se, com este movimento intenso dos atores, uma tensão que se fragmenta pela forma como são interpretadas as frases curtas do diálogo.

    Antonio Guedes chega até a “remontar” o texto para enfatizar o aspecto mais folhetinesco da peça, com resultado discutível, especialmente porque utiliza o personagem mais esquemático de A serpente, “A crioula de ventas triunfais” é caricatural, um tipo que conduz outro personagem à consciência de sua condição. Mas que empresta à peça um caráter de melodrama bizarro.

     

    Na encenação, que está em cena no Teatro Glauce Rocha, até a modificação do final se integra à agitada montagem que tem ritmo que acompanha o sincopado e as pausas do texto. A direção procurou, com algum êxito, encontrar a correspondência desse ritmo interno da peça num espetáculo marcado pela secura de palavras ásperas. O elenco – Vilma Meio, Cláudia Ventura, Marcos França, Priscila Amorim e Alexandre Dantas – está perfeitamente sintonizado com a proposta coreográfica do diretor, e mesmo quando a movimentação se faz excessiva, afogando o sentido da palavra, os atores demonstram nesta forma antirrealista de interpretação uma abordagem viva de uma peça um tanto frágil de Nelson Rodrigues.

  • Último texto de Nelson em versão irretocável
    Lionel Fischer
    Tribuna da Imprensa, 08/10/98

     

    Em seu último texto, Nelson Rodrigues conta a história de duas irmãs que se casaram no mesmo dia, na mesma igreja e dividem o mesmo apartamento. Mas enquanto Guida (Claudia Ventura) e Paulo (Alexandre Dantas) vivem enamorados, Lígia (Priscila Amorim) e Décio (Marcos França) jamais consumaram o ato sexual. Ao saber disso, Guida faz à irmã uma proposta que acaba desencadeando a tragédia.Vilma Melo (prostituta) completa o elenco da nova montagem da Companhia Teatro do Pequeno Gesto, em cartaz no Museu da República. Antonio Guedes assina a direção.

    Espécie de thriller de amor e morte, o ótimo texto recebeu versão irretocável de Antonio Guedes. Lançando mão de uma dinâmica cênica de extrema nervosidade e progressivo clima de exasperação, o diretor cria uma encenação que sugere um combate – essa sugestão é reforçada pela agressividade das posturas, pela forma como o texto é articulado e também através de uma permanente troca de posições, quase sempre a partir das extremidades do palco e passando pelo centro.

    Tal proposta está em perfeita consonância com o conteúdo do texto, pois é exatamente isto o que ele propõe: um combate de vida e morte. Que num nível mais imediato se dá entre membros de uma mesma família, mas que no fundo faz emergir o eterno descompasso entre a moral vigente e obscuros desejos que habitam o nosso inconsciente.

    Mas a montagem tem vários trunfos adicionais. Um deles é a excelente atuação de todo o elenco. Neste particular, destacamos o vigor e expressividade da perfomance de Claudia Ventura – sem dúvida uma das melhores atrizes de sua geração – e também o excepcional trabalho de Marcos França na pele do patético e virulento Décio.

    Na equipe técnica, são funcionais e expressivos a cenografia de Doris Rollemberg, os figurinos de Priscilla Duarte e a luz de Binho Schaeffer e Simone André. E igualmente notáveis a preparação corporal orientada por Julia Merquior e a trilha sonora do próprio diretor, toda ela centrada na inquietante repetição de um tango de Piazzola.


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