Antonio Guedes e Fátima Saadi, a partir de Sófocles
O interesse pelo trágico e pelas questões relacionadas com a tragédia sempre permeou as encenações do Pequeno Gesto. Apenas em 2003, porém, a companhia mergulhou em sua primeira peça do gênero, Medeia, de Eurípides. Alguns anos depois dessa primeira experiência, o Pequeno Gesto resolveu centrar sua pesquisa na dramaturgia contemporânea. Agora, juntando os dois interesses – o trágico e o contemporâneo – consideramos que chegou o momento de revisitar a tragédia grega e dimensioná-la no nosso tempo. Assim, trabalhar com uma nova tragédia, desta vez, Antígona, de Sófocles, é uma forma de afirmar o sentido da tragédia grega nos dias de hoje.
Com duração de 45 minutos, AntígonaCreonte vai ao encontro do anseio da direção de adaptar a tragédia com o mínimo necessário para contar a história. Sendo assim, além dos dois protagonistas, personagens do título, o elenco inclui o Corifeu, que faz as narrações. O título traduz nossa intenção de fazer uma abordagem muito particular dessa tragédia, na qual os dois personagens centrais se tornarão lados igualmente fortes de um embate, serão duas razões possíveis em relação ao direito privado e ao coletivo. O vídeo é utilizado para criar uma dimensão narrativa entre o real e o virtual. A música tem importância fundamental: o coro é totalmente musicado e, em algumas cenas, a música promove um diálogo entre Antígona e o Coro. O espaço é abstrato; não representa nenhum lugar específico. O cenário, formado de colunas de madeira, faz alusão, por um lado, às ruínas de um templo grego e, por outro, evoca uma estrutura incompleta de cena à italiana.
texto original SÓFOCLES
adaptação ANTONIO GUEDES E FÁTIMA SAADI
dramaturgia FÁTIMA SAADI
direção ANTONIO GUEDES
cenário DORIS ROLLEMBERG
vídeo RICO E RICARDO VILAROUCA
figurino MAURO LEITE
música PAULA LEAL E AMORA PÊRA
iluminação BINHO SCHAEFER
fotos LUIZ HENRIQUE SÁ
elenco no vídeo JAQUELINE ROVERSI e IVAN MENDES
Elenco
GUSTAVO OTTONI
MARIANA OLIVEIRA
VILMA MELO
TRAGÉDIA ENXUGADA
Versão contemporânea de Antígona centraliza a ação nos protagonistas e mantém o essencial
Carlos Henrique Braz
Veja Rio, 03/08/2011
Antígona, princesa de Tebas, é condenada à morte pelo rei Creonte. O motivo: contrariando uma lei baixada pelo tirano, ela promove o sepultamento do irmão Polinice, considerado um traidor. Escrita por Sófocles em 442 a.C., a tragédia grega é reduzida à essência, em 45 minutos de sessão, na montagem encenada pela companhia Teatro do Pequeno Gesto, AntígonaCreonte, adaptação de Fátima Saadi, concentra a ação nos dois papéis principais, interpretados por Vilma Melo e Gustavo Ottoni. Fazendo as vezes de corifeu, Mariana Oliveira desdobra-se por tipos e cenas de apoio à trama. Personagens-chave, a exemplo de Ismênia (Jackie Netzach), irmã da protagonista, e Hémon (Ivan Fernandes), filho de Creonte e noivo de Antígona, aparecem em imagens projetadas na fina cortina no fundo do palco.
Os vídeos de boa qualidade produzidos pelos irmãos Rico e Renato Vilarouca entram com o toque contemporâneo. Uma representação do coro grego traz trechos do clássico narrados por vozes digitalizadas, como sons de robôs, e cita mortos insepultos da atualidade, a exemplo dos corpos não resgatados de vítimas do acidente no voo da Air France, em 2009. Na direção, Antonio Guedes extrai bons desempenhos de Vilma e Gustavo.