AntígonaCreonte

A primeira montagem do Pequeno Gesto para esta tragédia de Sófocles foi feita em 2011, num contexto político bastante diferente do contexto de hoje. Vínhamos de uma sequência de governos do PT e a atmosfera geral – ao menos para aqueles que apostavam em conquistas sociais – era a de que tínhamos alcançado um patamar de garantias democráticas que não poderiam mais ser contestadas e perdidas. Ou seja, um ambiente político que não permitiria um retrocesso. Por isso, trabalhamos AntígonaCreonte não como uma luta entre um ditador e uma representante do povo, mas como o embate entre uma representante do povo que reivindica a tradição e, portanto, a conservação da importância da religião em detrimento do Estado laico e um político inábil, fechado na intenção de criar uma lei que protegesse o país no futuro, proibindo as pessoas de lutarem contra seus concidadãos. Era, portanto, uma tentativa de resgatar a argumentação de Creonte.

Infelizmente o tempo passou e verificamos que a crença em que aquela atmosfera progressista na qual estávamos mergulhados viera para ficar não passava de uma ingenuidade, uma falta de experiência em relação aos altos e baixos que a História nos apresenta.

Após um terrível governo, no qual o fantasma de um golpe de Estado assombrou o país ao longo de quatro anos, vimos que a democracia é muito frágil e demanda um cuidado e uma afirmação constantes. Sua permanência nunca está definitivamente garantida. E, por isso, vimos a necessidade de retomar essa tragédia que se mostra claramente como um vivo debate sobre a cidadania e sobre o poder. Nesta remontagem vimos, sem qualquer esforço em produzir essa impressão, momentos em que o ex-presidente que ameaçou diariamente a democracia no país, era presentificado nos gestos de Creonte em cena.