O jogo do amor

de

Marivaux

O jogo do amor, de Marivaux, 1998.

Indicações para o Prêmio Coca-Cola 98 e Mambembinho 98

Estreou em 1998 no Museu da República, seguindo depois para o Teatro do Planetário e Ziembinski. Cumpriu temporada de um mês no Sesc Consolação (SP). Participou dos festivais de inverno de Campina Grande (PB) e Ouro Preto (MG) em 2001. Integrou a primeira mostra Sesc-CBTIJ de Teatro para Crianças passando por 11 unidades do Sesc do Estado do Rio.

Silvia, prometida em casamento pelo Sr. Orgon, seu pai, ao filho de um amigo dele que ela sequer conhece, temendo por sua felicidade, pede a seu pai que lhe permita observar, de uma posição privilegiada, seu pretendente Dorante. Não sendo um pai tirano, o Sr. Orgon consente que a filha troque de lugar com a criada Lisete.

Marivaux contempla com carinho, mas sem pieguice, aqueles que mergulham na voragem da paixão e em suas dissimulações.

Em 2012 remontamos O jogo do amor para um circuito de várias escolas municipais de São João de Meriti. Novos figurinos foram elaborados por Mauro Leite segundo sua nova concepção para o texto. E a diferença em relação aos figurinos da primeira montagem surpreendeu a todos.
O elenco desta versão era integrado por Gabriela Estevão, Gustavo Arthiddoro, Gustavo Ottoni, Marcelo Dias e Viviana Rocha.

Ficha Técnica

autor MARIVAUX
direção ANTONIO GUEDES
tradução e adaptação FÁTIMA SAADI
dramaturgista FÁTIMA SAADI
preparação corporal JULIA MERQUIOR
cenário DORIS ROLLEMBERG
figurinos MAURO LEITE

 

Elenco
ALEXANDRE DANTAS
CLAUDIA VENTURA / HELENA STEWART
MARIA LUIZA CAVALCANTI / PRISCILA AMORIM
SIMONE ANDRÉ
VILMA MELO

  • O jogo do amor, de Marivaux, 1998.
  • Claudia Ventura e Alexandre Dantas. O jogo do amor, de Marivaux, 1998. Foto: Murah Azevedo
  • Claudia Ventura. O jogo do amor, de Marivaux, 1998. Foto: Murah Azevedo

Crítica

  • Misto de humor e leveza na medida certa
    Mànya Millen

    Jornal O Globo, 20/02/99 A história de um troca- troca equivocado entre casais de apaixonados, um tema recorrente em comédias seculares, e também o mote de “O jogo do amor”, de Marivaux. Levada aos palcos pela primeira vez em 1730, a peça pode ser vista no Teatro do Planetário da Gávea numa ótima e descomplicada encenação do diretor Antônio Guedes e sua companhia, O Teatro do pequeno Gesto.

     

    Ingenuamente malicioso e altamente lúdico, o texto (traduzido e adaptado por Fátima Saadi) ganha força nos diálogos rápidos e espertos que, entretanto, poderiam se perder numa direção frouxa, que sucumbisse às armadilhas dos trejeitos e exageros típicos de uma comédia do século XVIII. Porém, num espetáculo de estrutura singela – em que o figurino colorido compensa o cenário quase inexistente – Guedes conduz e marca o seu elenco com segurança, extraindo deles o humor na medida certa para cada personagem.

    Girando basicamente em torno da confusão de sentimentos e aparências, o texto conta a história de Sílvia (Simone André), que se vê prometida em casamento pelo pai (Alexandre Dantas) a Dorante (Maria Luiza Cavalcanti), um jovem que não conhece. Desesperada, porque quer se casar por amor, ela troca de lugar com sua espevitada criada Lisete (a excelente Claudia Ventura), para observar melhor o noivo e tomar a sua decisão. Só que este tem a mesma idéia e troca de lugar com o seu criado, o escrachado Arlequim (Vilma Melo).

    Apartir daí sucedem-se cenas de confusão explicita e humor idem, com o jogo amoroso valorizado pela performance adequada do elenco: Simone e Maria Luiza mais contidas; Claudia e Vilma explorando o viés mais bufão de seus personagens. A brincadeira que termina em paixão verdadeira entre os dois patrões e os dois criados acontece de forma leve e graciosa, garantindo bons momentos de diversão.

  • O essencial da história em texto bem autoral
    Lúcia Cerrone
    Jornal do Brasil, 21/11/98

     

    A companhia Teatro do Pequeno Gesto, responsável pela montagem de O Jogo do amor, nos jardins do Museu da República, está em atividade desde 1992. Com um repertório dos mais variados, já montou Ibsen, Oscar Wilde, Fernando Pessoa e Nelson Rodrigues, entre outros. Em sua primeira incursão ao público infantil, o grupo escolheu nada menos do que Marivaux. Com cortes e recortes na obra do comediógrafo francês, o que se vê no palco é uma deliciosa trama de enganos, onde no primeiro plano está a arte de representar.

    A adaptação de Fátima Saadi não deixa o espectador esquecer que está no teatro. Não é raro escutar de um dos personagens frases como: “se eu pudesse abandonaria este cenário e tiraria este figurino”, integrado à trama, não como uma critica, mas como mais um elemento do jogo que se encena. Sem nenhum purismo que pretenda encenar a comédia na íntegra – às vezes, espetáculos de três horas de duração que levam a platéia ao profundo tédio, Fátima tira o essencial da historia num texto bastante autoral. O resultado é dos melhores.

    Nesta comédia de erros escrita por Marivaux em 1730, Silvia, prometida por seu pai, Sr Orgon, ao filho de um amigo, Dorante, resolve trocar de lugar com a criada Lisete para ver de longe se lhe agrada o pretendente. Dorante usa o mesmo recurso, trocando de lugar com o seu criado Arlequim. O Sr. Orgon sabe de tudo e é o primeiro a avisar ao público o que está para acontecer. Em meio a esse quiproquó de entradas e saídas estratégicas o final feliz é esperado e garantido.

    Antonio Guedes cria para o texto um espetáculo ágil, de imediata empatia com público. Antes de chegar ao palco, os atores vestidos com cores da Commedia dell Arte, em figurino assinado por Mauro Leite, tratam de deixar o público bem à vontade, brincando com a localização do teatro – um canto do jardim entre dois prédios por onde o vento encanado forma uma possante refrigeração natural –, mais cadeiras que chegam conforme o número de espectadores.

    Assim, já na platéia e criado um elo afetivo com a peça, capaz de romper a Quarta, a Quinta e Sexta e quaisquer outras paredes que possam existir. O jogo de humor continua no palco, com excelente trabalho de ator e construção do espetáculo. Um pocket Marivaux, onde vale roubar a cena, superatuar e principalmente tirar proveito dos pequenos gestos. Tiques do teatro “antigo”, em releitura contemporânea, onde até o mestre-sala e a porta-bandeira reverenciam seus antecedentes mais remotos como Arlequim e Pulcinella,. A história dentro da história.

    No elenco de cinco atores, todos muito convincentes em seus papéis, Alexandre Dantas e Orgon, com interferência bem humorada na trama. Simone André faz uma delicada Silvia, como pede seu papel de mocinha na história. Maria Luiza Cavalcanti, interpretando um papel masculino, não exagera na caricatura, e Vilma Melo também em personagem masculino, dá brilho ao seu Arlequim com um humor quase chanchadesco. A grande surpresa no entanto, fica com Claudia Ventura no papel da criada. A atriz desenha sua personagem que brinca na linha do exagero com a maior competência. Uma difícil composição que deu certíssimo. O jogo do amor é um espetáculo de pura delicadeza, bom de ver e de participar. É o teatro encenado além do palco, que vai para casa com a platéia.