Valère Novarina
Pintor, poeta, dramaturgo, Novarina é um artista que transita pela fronteira que separa os diversos gêneros artísticos. Paralelamente à criação de seus textos, trabalhou com grafismos, com pintura, desenhando personagens, pintando cenários e, a partir de 1986, começou a encenar alguns de seus livros. Sua obra chegou ao Brasil através das traduções de Angela Leite Lopes, em parceria com a Editora 7 Letras. Teve alguns de seus textos adaptados e misturados por Ana Kfouri, no espetáculo Esfíncter em 2006. Em 2007, pela primeira vez um texto de Novarina foi encenado na íntegra: O animal do tempo, com Ana Kfouri retornando ao palco depois de 15 anos, dirigida por Antonio Guedes. Desde então, a obra deste autor, já muito reconhecida na Europa, vem sendo difundida também no Brasil.
Teatro dos ouvidos é uma narrativa entre o monólogo e a poesia, entre a fala e a literatura. Daí o título ambíguo – se levarmos em consideração que a palavra TEATRO, em sua origem, significa lugar para ver – aludindo à audição no lugar da visibilidade. Novarina trabalha exatamente na intersecção das ambiguidades. Ele evoca, no texto, a ideia de um sujeito que só existe enquanto ideia. De concreto, só o seu enunciado… só as palavras.
“Não consigo acreditar que estou dentro de um homem. (…) Povoei o mundo de nomes.” Diz o texto, já no final. Esta impossibilidade de identificação entre aquele que pensa e fala com o corpo que se desloca no espaço traz a Linguagem para o primeiro plano.
Este texto é construído num tom muito bem-humorado, vendo toda aquela impossibilidade existencial como um jogo no qual só resta achar graça dessa condição humana. O tema que Novarina desenvolve em Teatro dos ouvidos pode ser encontrado também em Beckett. Mas com a diferença que o clown ‘novariano’ é mais explícito, mais visível. Não é como um Buster Keaton: o homem que nunca ri. Ao contrário, é o clown que só adquire sentido a partir de um sorriso aberto. Este texto de Novarina não chega a contar uma história explícita, mas evoca imagens em sucessão e transborda afetividade.
Esta montagem experimenta os limites entre o teatro e as artes plásticas, levando o público a fazer parte da cena, caminhando por um labirinto de paredes diáfanas da instalação criada por Bel Barcellos. Em algum momento ele encontrará Angela Leite Lopes que percorrendo os caminhos deste labirinto diz o texto de Novarina.
texto VALÈRE NOVARINA
tradução ANGELA LEITE LOPES
direção ANTONIO GUEDES
cenografia / instalação BEL BARCELLOS
vídeo MIGUEL PACHÁ
figurino SAMUEL ABRANTES
iluminação BINHO SCHAEFER
fotos LUIZ HENRIQUE SÁ
design gráfico LUIZ HENRIQUE SÁ E BÁRBARA EMANUEL
Elenco
ANGELA LEITE LOPES